quarta-feira, 16 de junho de 2010

A chave para inovação


Para inovar, uma empresa necessita criar um ambiente certo, uma cultura certa para inspirar as pessoas e potencializar suas mentes.


Há alguns bilhões de anos uma sopa química deu origem a vida em nosso planeta. Antigas formas de vida foram ficando mais e mais sofisticadas por meio de três simples mecanismos (mutação, cruzamento e seleção), fantasticamente explicados por Darwin, em 1859. Alguns organismos começaram a desenvolver estruturas neurais, capacidade de se comunicar e de criar ferramentas. Desenvolvemos a capacidade do design, de criar o novo, também criamos a arte, a ciência e a tecnologia, com a qual dominamos todas as outras formas de vida. Com a capacidade de criar aceleramos ainda mais o processo e ganhamos escala.

Mudamos tudo a nossa volta e criamos um modelo de vida além do que os recursos do planeta seriam capazes de sustentar. Alguém poderia dizer: “É porque somos muitos!”, mas será que é por isto mesmo? Se compararmos a biomassa humana com a biomassa das formigas, por exemplo, as formigas pesam de três a quatro vezes mais que nós. Seria o equivalente a ter 30 bilhões de pessoas no planeta atualmente. Também, alguém poderia dizer: “É porque não tem dinheiro para todo mundo!”, mas será que é falta de dinheiro? Lembro-me do Ted Turner, criador da CNN, dizer que os trilhões de dólares gastos na guerra-fria seriam suficientes para todo ser humano viver no paraíso material, ou seja, não é porque somos muitos ou porque não temos dinheiro, mas sim pelo modelo de vida que escolhemos.

Podemos pensar a tecnologia, a comunicação e a competição do mundo atual como partes de um processo similar aos usados na seleção natural. A tecnologia atua como um mecanismo de mutação e constantemente gera novas possibilidades. A comunicação e a conectividade permitem a combinação de ideias equivalente a um mecanismo de cruzamento. E, por fim, a competição dos mercados atua como um grande processo de seleção, decidindo o que sobrevive e passa para a próxima geração. Uma dinâmica capaz de nos manter em constante revolução e de criar toda essa diversidade de ideias, produtos, serviços e experiências que estamos presenciando.

Darwin nunca disse que era o mais forte ou o mais inteligente que sobrevive, o que ele nos disse foi: “Quem sobrevive é quem está mais preparado para mudanças, ou seja, o mais adaptável”. Em um mundo de extrema competição como o que estamos vivendo, pessoas e organizações precisam aprender a se adaptar, cada vez mais rápido.

O que determina o sucesso de uma organização é a capacidade de atrair a atenção dos consumidores para as suas ideias, produtos ou serviços. E, para isso, é preciso se diferenciar. A essência da inovação é a busca pela diferenciação. A tentativa de deixar o cardume e buscar uma nova alternativa. Algo que, até então, não acontece na tecnologia ou em qualquer outro lugar, mas exclusivamente em nossas mentes. Uma capacidade que não dá para ser percebida pelo exterior. Não importa a idade, a origem, o sexo ou a cor da gravata, mas envolve a capacidade de navegar no problema sem se perder; modelar o todo e as partes, fazer as perguntas certas, nas horas certas; vencer aparentes contradições; manter a mente de criança; arriscar; e, assim, criar e contar uma nova história.

Conhecimento é a chave para abrir as portas da inovação e está diretamente ligado com a qualidade de nossas fontes e o treinamento intelectual que nos colocamos. Se procurarmos ideias radicalmente diferentes, nossa perspectiva precisa ser radicalmente diferente. Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1965, costumava dizer que se colocava no lugar de marcianos para se perguntar: “O que eles iriam achar se encontrassem tal problema?”

Para inovar, uma empresa necessita criar um ambiente certo, uma cultura certa para inspirar as pessoas e potencializar suas mentes a atingir todo seu potencial. Não adianta comprar máquinas, processos, sistemas e não trabalhar o indivíduo. Trata-se da tarefa mais importante para os líderes de hoje. Em inovação não existem fórmulas. Antes de criar as inovações, precisamos criar os inovadores.

Charles Bezerra (Diretor-executivo do Gad’Innovation. Possui Ph.D. em Design pelo Illinois Institute of Technology e trabalhou como consultor de inovação em vários projetos internacionais para empresas como Steelcase, Sabre Holdings e Marriott Hotels. Foi gerente de design para América Latina da Motorola e ganhou o prêmio de ouro no IDEA’08. Também é autor do livro “O designer humilde: lógica e ética para inovação”)

FONTE: HSM

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Inovação: a disciplina que chegou para ficar

Mais do que uma matéria necessária, a Inovação chegou na agenda das empresas para ficar. Consultor aborda como as empresas devem otimizar essa disciplina





Se analisarmos a história empresarial, disciplinas como produtividade, qualidade e marketing foram sendo incorporadas no seio das empresas para dar uma resposta às mudanças do ambiente, tornando-as mais competitivas. Hoje elas são requerimentos básicos para qualquer companhia que vislumbre ter um futuro competitivo e bem-sucedido.

A inovação é a nova matéria que deve ser incluída nas empresas. Muito além de uma moda, chegou para ficar. Como o resto das cadeiras dos cursos de graduação, a inovação tem evoluído com o tempo até alcançar um nível de maturidade tal que sua inclusão na empresa é tão certa quanto necessária.
Hoje podemos afirmar que as melhores práticas de inovação permitem gerar receitas rentáveis, de forma sustentável, e que as empresas que a incluíram de maneira eficaz têm resultados notórios no mercado. A inovação também deve ser estudada e debatida, e é uma matéria indispensável em qualquer MBA.

Se voltarmos no tempo, a inovação evoluiu rapidamente nos últimos 50 anos. Primeiramente, acreditava-se que a inovação podia ser realizada por poucos escolhidos, inspirados ou artistas. Atualmente, sabe-se que qualquer um pode inovar, deve-se apenas aplicar as condições e técnicas adequadas para liberar todo o potencial das pessoas envolvidas.

Outros mitos e enganos sobre os processos de inovação foram sendo desmistificados com o tempo. Achava-se que a inovação tinha que ser feita em lugares distantes e com informações sigilosas. Hoje é de conhecimento que, conectando-se diferentes atores no processo, são obtidas mais ideias e melhores resultados com menor investimento e risco.

Além disso, a definição de inovação sofreu alterações e mutações com o passar dos anos, sobretudo com o desenvolvimento dos processos. Pensava-se que inovar era lançar novos produtos e serviços, mas hoje é notório que se deve inovar em um sentido amplo, como declara o Manual de Oslo em sua definição de inovação: recomenda-se inovar também os modelos de negócio, processos e o modo como as empresas organizam e fazem a gestão de seus recursos humanos.

Os tipos de inovação também foram se modificando ao longo do tempo. Atualmente, a implantação de uma cultura diferenciada na empresa, independentemente da área de atuação, é considerada uma inovação. A descoberta de novas aplicações para conceitos e práticas já são utilizadas também.

A partir de estudos e definições de especialistas, chegou-se a alguns objetos focais da inovação. Eles poderiam, e até deveriam, ser trabalhados como matérias em institutos e universidades. A inovação de produto, um dos casos, consiste em modificações nos atributos do produto, com mudança na forma como ele é percebido pelos consumidores. Um exemplo são os automóveis com câmbio automático, em comparação aos "convencionais".

Outro tipo é a inovação de processos, que trata de mudanças na forma de produção de bens ou serviços. Não gera necessariamente impacto no produto final, mas cria benefícios na linha de criação, geralmente com aumento de produtividade e redução de custos. Um exemplo é a comparação entre um automóvel produzido por robôs e outro, por operários humanos.

Último tipo nesta lista, a inovação do modelo de negócio considera mudanças na forma como o produto ou serviço é oferecido ao mercado. Não implica necessariamente alterações no produto ou mesmo no processo pelo qual ele é produzido, mas sim na forma como ele é levado ao mercado. Novamente o exemplo é o automóvel que, desta vez, é alugado ao consumidor, que passa a pagar uma mensalidade pelo uso do veículo, com direito a seguro, manutenção e troca pelo modelo mais novo a cada ano, em comparação ao modelo de negócio tradicional, focado na venda do veículo.

Com todas essas mudanças, chegamos a um patamar de conhecimento e aplicação das inovações que permite às empresas criar comitês e áreas para centralizar as descobertas. Em muitos dos casos, os melhores exemplos são as inovações cruzadas, que promovem interação entre diversos setores, em busca de melhora significativa. A utilização de descobertas em uma área pode trazer avanços importantes em assuntos que, teoricamente, não apresentam nenhuma interligação.

Uma das formas mais recentes da matéria é tornar a inovação aberta. E, com o advento das redes sociais, as empresas, especialmente pequenas e médias, estão se valendo diretamente das opiniões e ideias dos consumidores e entusiastas, para criar novos produtos e serviços, e melhorar o nível do que apresentam a esses mesmos públicos.

Outra vantagem do processo de inovação é o fato de que ele pode unir matérias e assuntos totalmente diferentes, gerando benefícios para empresas, produtos e pessoas, ao mesmo tempo. Considerando que sua capacidade de gerar vantagens competitivas a médio e longo prazo se torna essencial para a sustentabilidade das empresas e dos países no futuro.

Exatamente por esse motivo, reconhecidos líderes empresariais do País já tomaram a iniciativa e estão incluindo em suas companhias as mudanças necessárias para que a inovação seja parte do DNA empresarial, para obter resultados tangíveis dos quais todos poderão usufruir em pouco tempo.

Rafael Garrid (Sócio da everis, consultoria multinacional que oferece soluções de negócio globais e tecnologia da informação)

Fonte: HSM, link para o site