terça-feira, 24 de agosto de 2010

O PARADOXO DA INOVAÇÃO!


O enorme crescimento da competição fruto da globalização e do salto tecnológico e, uma maior maturidade do capitalismo criou nas empresas um comportamento obsessivo que requer atenção.

Hoje, os maiores interessados em tornar nossos produtos obsoletos somos nós mesmos; e devemos fazer isto antes que a concorrência o faça. Com o avanço da tecnologia ficou cada vez mais fácil fazer benchmarking e engenharia reversa, possibilitando a oferta de produtos tecnicamente parecidos, a preços semelhantes no mercado.

Frente a esta realidade, torna-se indispensável a criação contínua de novos diferenciais competitivos. Redescobrindo o poder da sedução dos consumidores pelo novo, as empresas se lançaram em uma busca nem sempre refletida de inovações.

Ainda que a inovação seja uma premissa atual, ela tende a ser, por outro lado, cada vez mais difícil e onerosa de manter-se ao longo do tempo. E é exatamente nisto que consiste o paradoxo da inovação:

"Quanto mais inovamos mais difíceis se tornam as próximas inovações e, portanto, a manutenção de uma estratégia competitiva baseada apenas na inovação".

A implantação de cada inovação tende a custar mais que a anterior porque para inovar são necessários novos aportes financeiros para pesquisa, desenvolvimento, planejamento, produção, marketing e comercialização. Eis o risco de cada inovação; se o mercado assimilar como valor este "novo" que estamos ofertando, todo nosso dispêndio terá sido investimento. Se não responder desta maneira, nosso dispêndio transforma-se imediatamente em custo!

Todo produto possui um ponto "ótimo", a partir do qual as novas modificações (inovações) começam a agregar um valor percebido cada vez menor. Partindo da clássica visão de marketing onde quem compra uma furadeira não precisa dela e sim dos furos, vemos que enquanto algumas empresas estão insistindo em inovar furadeiras (inovação redundante), outras podem investir em um novo paradigma para obter furos (inovação consistente).

A inovação ingenuamente conduzida pode estar na contramão de outra característica da competitividade atual: a redução de custos. Como lidar com estas ambiguidades?


O primeiro desafio é justamente vencer o comportamento obsessivo de fazer as coisas compulsiva e repetidamente sem a devida reflexão sobre suas repercussões no curto, médio e longo prazo. Ao adotar tal comportamento, as empresas se esquecem de perguntar qual é realmente a melhor estratégia para chegar ao resultado esperado.


Considerar apenas os aspectos positivos da estratégia centrada na inovação é equivalente a idealizar ingenuamente a diferenciação como o remédio para todos os males. A inovação não traz apenas benefícios, assim como o aumento do crédito e das exportações também não; é difícil encontrarmos no mundo algo que traga somente benefícios!

É fundamental observarmos a inovação dentro do contexto geral do negócio e não isoladamente; o vício de isolar uma só variável é a causa de muitas lacunas nas estratégias empresariais. Esta não é apenas a era da inovação, mas também a da inclusão, da redução de custos, das margens estreitas, da concorrência globalizada, da análise do risco, da busca de clusters, da inteligência competitiva, etc.


Cada uma destas variáveis altera as repercussões de cada inovação que introduzimos no mercado e seus efeitos sobre o nosso negócio. Ainda que teoricamente as possibilidades de inovar sejam ilimitadas, há um momento em cada mercado onde uma inovação adicional não compensa os esforços necessários para introduzi-la.


Veja este exemplo envolvendo a IBM, Apple e Intel. A Apple sempre foi reconhecida por seu foco em inovação e performance. Como a Apple já representava uma parcela pequena dentro dos negócios da IBM, tornou-se desinteressante para a IBM continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple na fabricação de processadores.


Para a Apple fazia-se necessária uma redução no custo de produção dos chips para ofertar seus computadores a preços competitivos no mercado, aumentando sua base de clientes. Como a Intel disponibiliza chips de excelente qualidade a preços muito competitivos, vimos uma grande mudança de paradigmas na fabricação do Macintosh, que passou a contar com chips da Intel.

Por que a IBM optou por não continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple?

A IBM, possuindo outras oportunidades de mercado muito mais lucrativas e com maior participação no seu negócio, percebeu que obteria melhores resultados abrindo mão de inovar esta linha de chips demandada apenas pela Apple e focando seus esforços nos negócios que realmente lhe são mais lucrativos. Como vimos, às vezes, não insistir na inovação de determinados produtos pode ser uma estratégia alternativa.

Outro grande perigo da inovação compulsiva é o aumento do estresse da decisão de compra.

Há no mercado muitas variações para um mesmo produto. Diante de, por exemplo, oitenta opções de creme dental, um consumidor sente uma ansiedade de decisão (decidir custa tempo) e, por mais que seja um experimentador nato, ele tende a buscar diminuir o estresse elegendo uma marca/opção e, uma vez obtendo satisfação, acaba fidelizando sua escolha. No longo prazo este fenômeno faz com que o perfil dos experimentadores torne-se gradativamente mais conservador.

Assim, quanto maior o volume de inovações em um curto espaço de tempo, mais difícil ficará a partir de um determinado momento que os consumidores queiram tão intensamente o novo em função do estresse de decisão de compra e de uma racionalidade de compra crescente. Cada inovação, a partir daí, terá que ser muito significativa e para consegui-las teremos que investir corretamente em P&D.

Peter Drucker disse com sua sabedoria de sempre:

"A inovação depende, ao mesmo tempo, de concepção e percepção. A inovação produtiva e sistemática começa com a análise das oportunidades".

Precisamos analisar se estamos ampliando ou diminuindo as oportunidades futuras introduzindo inovações de pequena relevância, que possuem ciclos de vida cada vez mais curtos, e custam cada vez mais caro. Isso pode funcionar no curto prazo, mas impossibilitar estratégias de médio e longo prazo.

Estratégias não são como o vinho, ao contrário, são como as uvas e possuem sua época própria. Consumi-las fora de época e sem refletir sobre o futuro é ingenuidade e falta de planejamento. Nosso foco é obter resultados crescentes para o negócio e não apenas a diferenciação dos produtos e serviços. O futuro do negócio, para algumas empresas, pode significar abandonar absolutamente estes produtos e serviços e até migrar para outros mercados transformando a própria natureza do negócio. No capitalismo, o capital migra sempre para onde estão as maiores oportunidades de lucratividade.

A grande questão não é inovar, mas sim quando e como inovar e, quando buscar outra estratégia. A busca obsessiva e irrefletida pela inovação pode significar miopia estratégica.

O foco da inovação excessivamente centrada no produto não condiz com a era pós-industrial. Enquanto insistem em inovar seus produtos, muitas empresas não percebem que seria melhor inovar seu marketing, seu estilo de gestão, sua imagem institucional e demais estratégias frente ao mercado.

Nosso foco deve ser resultado e para obtê-lo devemos considerar que o custo dos erros de um projeto hoje em dia comparado com o de dez anos atrás é exponencialmente maior. Errar tornou-se infinitamente mais caro e inadmissível. Portanto a decisão de inovar deve ser amplamente refletida e não apenas um impulso frente à tendência atual.

Encontre, especificamente para a sua empresa e o seu negócio quais são as melhores estratégias. Inovação é apenas uma delas!

Texto de Carlos Hilsdorf.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

IP or not IP…

Uma questão central no processo de inovação tecnológica, que vem sendo discutida amplamente tanto por parte das empresas como dos centros de pesquisa é a necessidade de proteção intelectual de invenções, para viabilizar a geração de inovações a partir delas. Para a empresa, uma tecnologia protegida significa vantagem competitiva. Para o centro de pesquisa, engrossa a estatística de produtividade científica e aumenta, em tese, o potencial de geração de royalties e transferências para o mercado.

Muito do que se fala em IP (do inglês, Intelectual Property), contudo, representa alguns mitos. Muitos desses mitos aparecem nesta ótima entrevista com Jackie Hutter, Chefe de Estratégia em IP e Fundador do The Hutter Group, feita pelo blogueiro Braden Kalley, do Blogging Innovation.

Ela mostra pecados por excesso e também por falta de IP na hora de lidar com invenções. Muitas vezes, a patente não é necessária, seja porque o produto ficará no mercado por um período curto, o mercado é limitado ou quando fortes relações comerciais fazem com que ela seja dispensável. Há ainda casos em que os advogados de IP (treinados para terem aversão ao risco), forçam o patenteamento muito cedo, antes que o produto seja testado, ainda que de forma piloto. Acaba-se patenteando produtos que se revelarão ruins no futuro ou gastando mais dinheiro em complementos àquela patente com os desenvolvimentos e melhorias adicionais, que sempre surgem no processo de scale-up.

Ela mostra ainda que em muitos casos, a área de IP é vista como um “centro de custo” do departamento jurídico e não de investimento. Em outras palavras, quanto menos for gasto ali, mais sobra para as áreas fins do negócio. Muitos executivos da área tem seus bônus atrelados a redução de custos nestas áreas e esse distanciamento do negócio faz com que proteções que representariam inovações de longo prazo para a empresa sejam mal feitas.

Por fim, diz que o maior mito é o de que “muitos profissionais acreditam que propriedade intelectual é um ativo institucional pronto para ser colhido sem nenhum trabalho de cultivo”. Em outras palavras, para uma organização ter IP, ela deve ter uma estratégia de IP. Vale a leitura!

PS: Obrigado ao pesquisador Carlos Figueroa, da Universidade de Caxias do Sul, pela indicação do artigo.

Foto: Metal Crhis

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

INOVAÇÃO CENTRADA NO CLIENTE: DANDO AO CLIENTE UM LUGAR À MESA

Gostaríamos de compartilhar um artigo de Mila D'Antonio, gerente editorial do 1to1 Magazine e do Customer Strategist Journal.

"A Aflac e a LG Mobile Phones são apenas duas das muitas empresas que utilizam o conteúdo gerado pelo usuário para ter idéias de produto e insights de marketing.


"I Like You a Latte", "Let Freedom Ring" e "Nut N Fancy" são apenas três dos 12 finalistas do segundo concurso interativo Dunkin Donuts (Create Dunkin's Next Donut)".

A competição dos “produtos gerados pelo usuário” produziu, no ano passado, impressionante métricas digitais. A campanha atraiu 130 mil participantes online, gerou 3 milhões de “Newsfeed” no Facebook, foram criadas 330 mil idéias de donuts e registrou uma participação média de tempo online de nove minutos. Para o Dunkin 'Donuts, a competição provou ser um excelente exemplo de crowdsourcing.

As campanhas de “produtos gerados pelos usuários”, como a do Dunkin Donuts, estão atraindo interesse tendo em vista que as empresas vêem o valor de aproveitar esses “influenciadores de massa” online, termo definido pelo autor de Groundswell e analista do Forrester, Josh Bernoff. No Forrester Consumer Marketing Forum realizado em abril, Bernoff informou que os “influenciadores de massa” são responsáveis por 80% dos pensamentos em mídias sociais. "É importante reconhecer que você precisa ouvir o que eles estão dizendo", diz Bernoff.

Na Aflac, os clientes disputam pelo melhor vídeo

A Aflac, empresa de seguros de saúde e de vida, por exemplo, está ouvindo as idéias de seus clientes e fãs através do lançamento de seu primeiro concurso de “vídeo gerado pelo usuário” chamado “10-Second Challenge”. A competição, que começou em março e teve lugar na página do Facebook da empresa e no site www.aflac.com, incentiva os consumidores a enviar vídeos de 10 segundos explicando o que o nome "Aflac" significa para eles. O grande vencedor receberá 25 mil dólares e os nove finalistas irão todos receber US $ 1.000.

James Wisdom, diretor de novas mídias da Aflac, diz que a empresa queria mudar de um nome familiar para uma necessidade familiar. "Acreditamos que se as pessoas entendem o que temos, então as pessoas vão comprar", diz Wisdom.

A idéia surgiu a partir do recente comercial de televisão da Aflac com o piloto da NASCAR Carl Edwards, no qual ele descreve a marca em 10 segundos. "Isso nos levou a pensar que se Carl Edwards pode definir a Aflac em 10 segundos, então talvez qualquer um pode defini-la em 10 segundos", diz Wisdom.

Wisdom estava certo. A partir de abril, a Aflac recebeu 150 inscrições, atingiu cerca de 200.000 visualizações de vídeo, 50.000 votos, e 1,6 milhões de “Newsfeed” no Facebook. Isso é todo um reconhecimento da marca, estudos internos da Aflac mostram que os clientes que utilizam mídias sociais têm uma maior propensão em comprar o produto, a medida de 1,6 milhões é uma boa tacada para Aflac. "Queremos definir e colaborar com os clientes em um espaço onde eles se sintam confortáveis e onde possam interagir diretamente com a marca", explica Wisdom.

Wisdom diz que a campanha faz parte de uma mudança geral dentro da Aflac para concentrar-se em campanhas de mídias sociais interativas. Sendo assim, o departamento de marketing tem integrado a mídia social com o serviço ao cliente, monitorando a marca Aflac e respondendo a quaisquer perguntas de serviço em tempo real. "Nós estamos tomando uma postura mais proativa", diz ele. "Uma das grandes coisas das mídias sociais é que elas correspondem ao maior focus group do mundo. Você recebe muita informação valiosa."

O concurso “10-Second Challenge” da Aflac irá fornecer insights ricos e valiosos, os quais a empresa poderá desenvolver potencialmente com publicidades “grátis” em sites de compartilhamento de vídeo como YouTube, Hulu, e BrightRoll. A Aflac ainda precisa determinar se o vídeo vencedor será apresentado em um comercial de televisão nacional, mas Wisdom diz que a empresa, provavelmente, continuará lançando no futuro campanhas geradas pelos usuários. "Do ponto de vista da produção, é um grande valor", ele diz. "Nós vamos continuar a olhar para isso como uma opção."

LG pede aos clientes para projetar celulares

A LG Mobile Phones é outra empresa voltando-se para os consumidores para obter idéias. Em março, a fabricante de celular fez uma parceria com a Autodesk e Crowdspring para realizar um concurso que dá aos consumidores a chance de projetar sua visão do próximo celular revolucionário da LG. Os três primeiros finalistas receberão US $ 20.000, $ 10.000, e US $ 5.000, juntamente com vários softwares de design da Autodesk.

Joanne Daudier, especialista em inovação de produtos da LG, disse que sua equipe desenvolveu a idéia porque queriam aproveitar a voz do cliente como um recurso. "Nós queríamos usar o consumidor, pois queríamos fontes adicionais de idéias", diz ela.

Em seu terceiro ano, Daudier relata que a LG recebeu 800 inscrições para o concurso. Em termos de reconhecimento da marca, ela diz que a equipe de relações públicas está monitorando o valor e determinou que há um maior conhecimento sobre o concurso. Os inscritos têm ajudado a equipe de inovação de produtos com ajustes em várias funcionalidades. Se a LG aprovar todas as idéias geradas a partir deste concurso, após o período de testes, os produtos beta terão alguns anos para se desenvolverem. Daudier explica o valor: "Vamos usar esta competição todos os anos, pois ajuda-nos a vir com idéias novas para testar."

Leia artigo relacionado:
O Valor da Interação com o Cliente
http://www.1to1.com.br/newsletter/newsletter.php3?data=2009-01-29#1

O Cliente Sempre tem Razão?
http://www.1to1.com.br/newsletter/newsletter.php3?data=2009-04-20#1